Vai-se já uma semana da visita da FIFA a Manaus, período durante o qual tivemos uma chuva de celebrações e otimismo. Entramos o século XXI de pé direito; no período de dois meses temos, além da FIFA, a visita do Principe Charles, do vice-presidente da China (e provável próximo presidente) e dois shows internacionais de grande magnitude (Alanis e Iron Maiden). Nos encontramos ao cabo de seis anos de grande crescimento econômico (mais de 9% ao ano em média) que foram complementados por seis anos de desmatamento reduzido (a menos de 500km2 em 2008, ou 0,03% de nosso território). Novos shoppings, novos prédios, novos voos internacionais, novas empresas sugiram no horizonte amazonense neste período. Muitos saíram da pobreza, tiveram a carteira assinada pela primeira vez, entraram na economia formal, mudaram-se de igarapés, aprenderam a ler.
Por outro lado, ainda temos a internet mais cara do país e mais de vinte municípios do interior não têm cobertura de celular, para citar apenas dois ítens essenciais de uma economia do futuro. Questões de infra-estrutura, felizmente, se corrijem em relativo curto espaço de tempo. A licitação de 3G obrigou as empresas de telefonia de alcançar as áreas urbanas de todos os municípios do Brasil até 2010 e o investimento para ligar Manaus à Venezuela por fibra ótica já tem seu orçamento aprovado dentro da Oi/Brasil Telecom, para implantação até 2010 também (e tornar Manaus uma das melhores internets do Brasil). Uma outra frente, a humana,é mais complicada. Na abençoada possibilidade de o Amazonas sere selecionado sub-sede da Copa de 2014, estimamos a necessidade de recrutar 10 mil voluntários para ajudar na organização do evento. Neste momento nos deparamos com dois desafios: inglês e voluntariado.
É importante que os voluntários falem inglês. Há inúmeras oportunidades de se fazer cursos de inglês, privadas e estatais, mas a verdade é que ainda há poucos que persistem e completam uma formação em língua estrangeira. Somos um pólo turístico de enorme potencial, mas um forte gargalo é o volume de pessoas treinadas para receber turistas, de cujo treinamento o inglês é central. É apenas simbólico que precisamos de voluntários que falem inglês para a Copa. Um diretor hoje no Distrito Industrial precisa falar inglês em meio a indústrias cada vez mais internacionais. As novidades vindas de quaisquer campos do conhecimento humano em geral saem primeiro em inglês. Se você fala inglês, visite hoje o Elance.com e veja as inúmeras oportunidades de ganhar dinheiro hoje prestando serviços do seu computador a pessoas da Rússia à China. Os bons empregos de 2020 exigirão a língua.
Outro fator é o voluntariado. É comum em outros países que trabalhadores de tempo integral ainda mantenham alguma atividade de ajuda à comunidade, talvez aos sábados ou à noite. Há belíssimas exceções, sem dúvida; se você já o faz, peço perdão pela crítica, mas em geral temos um baixo volume de voluntários, para não mencionar os anti-voluntários (que jogam lixo nas ruas, pixam paredes, dirigem enfurecidos, etc.). Há muitas oportunidades de voluntariado, desde igrejas a asilos e orfanatos.
É importante lembrar que o Governo que temos é um reflexo de quem somos. Avançamos sem dúvida nos últimos anos, mas eis aqui duas frentes que podem avançar mais. Resta saber se você não vai receber o Beckham porque ele ficou muito velho para 2014 ou porque você ficou só no "What's your name?" das aulinhas.