Já se vão sete meses depois do fatídico 15 de setembro, quando o mundo financeiro parou e ajoelhou-se. Previsões originais oscilaram de zero a prenúncios do fim do mundo. É possível avaliar alguns dados e tirar conclusões a respeito do real impacto da crise no Amazonas, principalmente sobre trabalhadores, empresas e governos.
Trabalhadores - tínhamos ao final de março 456 mil amazonenses com carteira assinada, 13 mil a mais que o mesmo mês de 2007, 8 mil a menos que o mesmo mês de 2008. Esta queda se concentra no segmento industrial, com perda de 7 mil postos de trabalho. Comércio e serviços, após quedas em janeiro e fevereiro, já demonstraram recuperação de contratações em março, atingindo patamares de emprego semelhantes ao mesmo período de 2008. A construção civil, após um primeiro bimestre fraco, atingiu a estabilidade em março, com balanço de perda de 1 mil empregos no total. Em relação a março de 2008, cresceu um pouco o número de amazonenses inscritos no SPC (12%), mas o volume salárial do estado se manteve estável, dado que a arrecadação previdenciária neste período cresceu 3%. Apesar da crise, nossos consumidores continuam em forte ritmo de consumo, como indica o ICMS do comércio (5% de crescimento) e o emplacamento de carros novos -- não esperemos alívio no trânsito devido à crise.
Empresas - avaliemos empresas sob quatro aspectos: investimentos, faturamento, importação e lucratividade. Apesar de um bom número de novas empresas sendo abertas - 593 em março vs 511 em março de 2008 - o volume de investimentos aprovados para incentivos no CODAM caiu pela metade em relação ao início de 2008. O volume de crédito, necessário ao investimento, mostra alguns sinais de retomada do crescimento, após um 4o trimestre de 2008 de contração e um início de ano de estabilidade. O faturamento do PIM retornou a patamares de 2007, apesar de que o faturamento de todas as empresas no Amazonas ter se mantido estável com 2008, devido principalmente ao bom desempenho de comércio e serviços (indicados pela arrecadação estadual no segmento). Mesmo as indústrias, em abril e maio começam a indicar uma singela melhoria no volume de pedidos recebidos, ainda não ao nível de 2008 mas de significativa melhoria sobre o 1o trimestre. O volume de importação de nossa indústria, que serve como indicador dos planos futuros de produção, mostrou uma leve recuperação (USD493 milhões, vs USD401 milhões de fevereiro, nível mais baixo em 3 anos). Onde temos hoje os indicadores mais complicados são na lucratividade empresarial; sabe-se que sem rentabilidade a atividade empresarial não é sustentável. Em março tivemos uma queda na lucratividade de empresas amazonenses, denotada pela queda de arrecadação de IR Pessoa Jurídica, de R$117 milhões em março de 2008 para R$83 milhões em março de 2009. Tal situação, se persistir no médio prazo, tende a fragilizar nossa economia e interromper quaisquer recuperação.
Governos - A arrecadação governamental, tanto a nível federal quanto estadual, interrompeu sua implacável ascenção, com consequências diferenciadas nos três níveis. Marcando a entrada da crise, temos um grande esforço de diversos níveis: estadual, com termos de acordo para dar incentivos adicionais a indústrias para não-demissão e um volume de investimentos alto para manter a atividade econômica; federal tributário, com reduções de tributos, desde motocicletas a linha branca; federal financeiro, com o Banco Central de protagonista com liberações extraordinárias de recursos, reduções de juros e garantias a instituições financeiras menores juntamente a gastos adicionais com moradia e ampliação de crédito através dos bancos oficiais. Entretanto, a situação orçamentária, que já tendia à complicação, foi exacerbada por tais movimentos. A arrecadação federal no Amazonas caiu de R$613 (março 2008) para R$591 milhões em 2009 (3%), enquanto que o ICMS estadual caiu de R$302 para R$279 milhões (7%). Ao nível estadual, acumulou-se recursos em 2008 que permitem hoje a política, se não expansionista, ao menos preservacionista de atividade econômica; ao nível federal foi necessário reduzir a meta de superávit primário, além do alívio de juros mais baixos; o problema se torna hoje os municípios, com menos flexibilidade e preparação para enfrentar um cenário de arrecadação decrescente.
É precoce neste momento profetizar a recuperação econômica iminente, apesar de sonhar ser permitido a todos. Também não nos encontramos defronte depressão. Mais prudente é, enquanto mantemos nossas provisões para um inverno mais longo, iniciar o plantio de um futuro melhor. Tem menos trabalho devido à crise? Com o seu tempo livre, estude ou sente para estudar com seus filhos e netos, participe de sua comunidade, renove seus valores lendo a Bíblia, lembre-se do ser humano que você um dia sonhou ser. Como já dizia Gandhi, seja você a mudança que você quer ver no mundo.
