Cavalo selado vindo para a Zona Franca de Manaus
Denis Minev
O tema da reforma tributária é antigo e
complexo. A maior parte dos amazonenses, mesmo economistas, não tem tempo
de se debruçar sobre as cada vez mais complexas discussões que acercam o tema.
Reduz-se assim um dos maiores riscos ao nosso futuro a slogans e
política.
Gostaria de tomar cinco minutos seus para discutir
uma pequena reforma sendo discutida no CONFAZ (conselho de secretários de
fazenda do Brasil). O CONFAZ é um órgão em que as decisões são tomadas
por unanimidade; as 27 unidades da federação brasileira precisam concordar, sem
nenhuma divergência, para que suas decisões sejam eficazes.
Imagine a frequência com que 27 pessoas de uma
mesma família, que se amam, concordam em alguma coisa; imagine a sua
família. Imagine ainda que o tema é controverso e de grande importância
para cada um.
Pois é neste momento que nos encontramos e,
surpreendentemente, há consenso das 27 unidades da federação. Essa
mini-reforma busca um item principal que é justo: cobrar mais ICMS no estado
onde ocorre o consumo e menos no estado produtor. Se um consumidor do Piauí comprar uma
geladeira de São Paulo, o estado do Piauí deve ficar com a grande maioria da
arrecadação do ICMS. Se não for assim, os estados mais pobres (que
produzem menos) acabam transferindo recursos para os mais ricos, o que não faz
nenhum sentido. Essa reforma é justa e boa.
Onde o tema se complica é na preservação da competitividade
industrial. Pela lei, apenas o Amazonas pode conceder incentivos sobre o
ICMS; na prática, todos concedem incentivos sem que o Supremo Tribunal Federal
interfira. Assim, o que deveria ser uma vantagem competitiva de até 12%
(essa é a alíquota interestadual sobre a qual podemos dar incentivos), na
prática, é zero, pois outros estados concedem entre 7 e 12% também.
A proposta atual perante o CONFAZ é de dar a
exclusividade ao Amazonas de poder conceder 10% de incentivos (exceto em bens
de informática, onde seria 7%) enquanto que aos outros estados o máximo seria
4%. A competição entre estados para conceder incentivos seria reduzida, a
arrecadação dos estados mais pobres aumentaria e a competitividade industrial
da Zona Franca seria preservada e em alguns casos ampliada.
É raríssimo, nas discussões a respeito de reforma
tributária, que o Amazonas seja tão claramente tratado como exceção. Em
alguns segmentos econômicos, o Amazonas chega a ganhar competitividade
adicional versus os demais estados (especialmente em motos e eletro-eletrônicos,
nossos polos mais importantes). Mérito dos negociadores. Parabéns e
obrigado.
Em outros, como bens de informática, pode parecer
que perdemos competitividade; isso seria verdade se os outros estados
estivessem respeitando as leis de incentivo.
Esse não é o caso; na teoria ganhamos 3% versus nordeste e perdemos 2%
versus sudeste; na prática (que é o que vale), ganhamos versus nordeste e
empatamos com o sudeste.
Nesta discussão, o Amazonas tem se destacado pelo
profissionalismo com que trata a questão Zona Franca. Sucessivos governos
e bancadas federais amazonenses, de todos os partidos, tem defendido com
competência nosso polo industrial. Não é a toa que temos, a despeito de
enormes dificuldades logísticas, burocráticas e ambientais, algumas das mais
pujantes empresas atuantes no Brasil.
É também indiscutível o grau de competência
acumulado por nossos técnicos, seja na SEFAZ, SEPLAN ou SUFRAMA, que suspeito
compreendem o tema com maior profundidade do que de estados muito maiores como
mesmo São Paulo e outros.
Entretanto, há no momento muito ruído na
comunicação local a respeito desta proposta. Alguns gostariam de se ater
à letra da lei de 1967; no que diz respeito ao ICMS, ela certamente foi
desrespeitada por todos os demais estados e funciona apenas na teoria. Em
casos assim, em que 26 estados estão errados e um está certo, mesmo que
ganhemos no judiciário, perderemos o equilíbrio político.
O professor Samuel Benchimol já dizia que o
desenvolvimento sustentável na Amazônia se basearia em quatro pilares:
viabilidade econômica, adequação ambiental, justiça social e equilíbrio
político. A Zona Franca se baseia, em última instância, num consenso
político de que Manaus vale a pena para o Brasil. O Brasil entendeu isso
em 1967 e entende isso agora. Sigamos em frente.
Isso é um " Cavalo de Troia", pois limita a adequação da ZFM às novas tecnologias, num futuro não muito distante, A ZFM estará com incentivos fiscais para produzir máquina de datilografia.
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