Talvez não por coincidência, um novo
artigo foi publicado criticando a Zona Franca de Manaus, desta vez pelo
economista do BNDES Marcelo Miterhof, no jornal A Folha de São Paulo. Cabe mencionar que críticas construtivas são
sempre bem vindas e nos ajudam a aprimorar o modelo. Entretanto, esta em particular não aparenta
pertencer a esta tradição.
O “ilustre” economista critica três
itens em particular: poucos resultados de P&D na indústria de
eletro-eletrônicos, a inexistência de imposto de renda na Zona Franca
desestimularia investimentos em P&D de acordo com a Lei do Bem e o setor de
eletro-eletrônicos no PIM gera empregos com remuneração muito baixa. Segundo
o autor, estes três itens deveriam causar uma reflexão a respeito do atual
modelo. Comento a seguir a respeito de
cada um.
Primeiro, o autor menciona o
faturamento de R$34,6 bilhões do setor de eletro-eletrônicos e indica que as
empresas do segmento teriam a obrigação de aplicar 5% de seu faturamento em
pesquisa e desenvolvimento. Caso ele tivesse
se incomodado de ler a legislação da Zona Franca, saberia que os 5% somente são
devidos para bens de informática e não eletro-eletrônicos como um todo. Dado que bens de informática compõem apenas
20% deste faturamento, o autor estimaria que R$1,7 bilhões é aplicado em
P&D, quando este valor na verdade está mais próximo de R$350 milhões. Óbvio que, se ele procura resultados para
R$1,7 bilhões e a verdade é que apenas R$350 milhões são gastos, ele se decepcionará. A pergunta que fica é se ele cometeu um “erro”
matemático ou foi excesso de “criatividade”.
Segundo, o autor informa que a Zona
Franca não paga imposto de renda. Essa
afirmação simplesmente não é verdadeira.
Há um incentivo parcial na ZF; quando no Brasil se paga 34% de IR/CS, na
Zona Franca em alguns segmentos se paga 16,5%, o mesmo no norte e nordeste todo
(surpreendentemente não mencionados).
Curioso que tal informação escape a um economista do BNDES.
Terceiro, o autor considera a média
salarial do setor de eletro-eletrônicos (R$3.208) muito baixa, e suporta tal
evidência com a média do pólo de duas rodas da ZF (R$4.702). Entretanto, uma rápida consulta ao site da
FIESP mostra que a média salarial da indústria no estado de São Paulo é de
R$2.287; ou seja, num setor “ruim” da ZF se ganha 40% mais do que na média da indústria
de São Paulo. No segmento de duas rodas
a remuneração na ZF é mais que o dobro da paulista. Nada mal para a Zona Franca...
Com tantos erros fáticos e dados
manipulados, não é surpresa que o BNDES não compreenda a Amazônia e portanto
não apareça por aqui. Apenas como
exemplo, o BNDES assumiu a gestão do Fundo Amazônia em 2009, recursos advindos
de doação para a Amazônia da Noruega.
Além de engolir 3% ao ano em taxa de administração (altíssima comparada
a qualquer instituição de mercado), ele decidiu como sede do Fundo Amazônia não
Manaus, não Belém, mas... Rio de Janeiro.
Suspeito que administrá-lo a partir da praia de Ipanema deva ser
realmente mais agradável do que na mosquitarada amazônica. Só não é o certo.
Existem, é claro, críticas legítimas à Zona Franca de
Manaus. Nossos economistas estão
certamente prontos a debatê-la em busca de melhorá-la. Entretanto, é preciso que ao menos as
críticas sejam baseadas em informações corretas. Cada um tem o direito a suas próprias
opiniões, mas não a seus próprios dados.
Denis
Benchimol Minev
denis.minev@gmail.com