Este é o segundo artigo de uma sequência de seis que buscam as principais alternativas de desenvolvimento para o Amazonas. Este trata do segmento ENERGIA.
Manaus foi a segunda cidade no Brasil a ter luz elétrica. O bonde elétrico de Manaus já circulava muito antes dos seus comparsas no sudeste. Perde-se no Amazonas o "bonde" da energia mundial na primeira metade do século XX. Desde então tivemos algum sucesso recuperando-o e temos perspectivas atuais de avançar no presente para alcançarmos novamente posição de destaque neste início de século XXI.
O Amazonas da segunda metade do século XX desfrutou de dois grandes projetos no segmento de energia que deram forte impulso à economia regional. Um, a Refinaria, inaugurada nos anos 50 por Isaac Sabbá, um dos mais audaciosos empresários de nossa história, que hoje ainda faz de Manaus o centro de distribuição de derivados de petróleo na região norte e parte do nordeste. Dois, Urucu, que entrou em produção nos anos 90 e hoje produz mais de 50 mil barris de petróleo e GLP por dia, além do gás natural que em breve abastecerá Manaus. É um segmento que se desenvolveu sem os incentivos da Zona Franca mas ainda assim fazem do Amazonas o terceiro maior produtor de petróleo e derivados do país.
Entramos no século XXI com uma economia estadual cheia de esperança e em pleno crescimento. Quatro itens marcam esta primeira década. Um, o gasoduto Urucu-Manaus que aponta uma nova era de energia limpa e abundante em Manaus, com possíveis implicações industriais especialmente em segmentos como fundição e cerâmicas. Dois, o linhão de Tucuruí que promete a definitiva interligação de Manaus ao grid energético nacional, com implicações tanto de qualidade energética quanto de custo. Três, a abertura de uma nova era de prospecção no estado que já mostra sinais de potencial significativo tanto na região de Silves quanto em Carauari; somente a Petrobrás planeja mais de R$1,5 bilhão de investimentos em prospecção no Amazonas nos próximos quatro anos. Quatro, um investimento significativo de R$500 milhões na Refinaria buscando readequá-la à nova demanda regional mais baixo por óleo combustível e maior por produtos mais nobres do refino. Completamos assim as frentes que podem fazer do Amazonas um grande fornecedor de energia para o país.
E o futuro, o que nos guarda? O planejamento estadual vê hoje duas frentes principais. Uma, a frente de beneficiamento local. Possibilidades aqui incluem o pólo gás-químico de Manaus, que tem o potencial de juntar o gás de Urucu com a silvinita de Nova Olinda para produção de fertilizantes. Outras possibilidades incluem a utilização de tecnologia GTL para transformar o gás em diesel limpo, ou mesmo a construção de porto de GNL para exportação de gás natural liquefeito. Duas, a frente de energias renováveis. As tecnologia atuais ainda não permitem que qualquer verde (celulose) seja transformado em energia de forma econômica; atualmente apenas casos de culturas específicas são econômicos, como é o caso do etanol de cana de açúcar. Com os brutais investimentos em energia limpa que o mundo todo tem feito, acredita-se que esta tecnologia pode ser alcançada nos próximos 10 a 20 anos. Com muito sol, calor e água, a Amazônia é um local onde a vida vegetal cresce rapidamente; isto nos torna um dos locais mais competitivos para produção de energia a partir de celulose, dentre é claro de parâmetros de manejo sustentável de nossos recursos naturais. Outras possibilidades incluem também a utilização da correnteza de rios para geração de energia ou a energia solar, que também promete atingir maior economicidade nos próximos anos.
Há muitas oportunidades, riscos e desafios nesta jornada energética. Países e estados com grandes riquezas naturais muitas vezes não conseguem traduzir tais riquezas em melhoria de renda e condições de vida. Há passos sendo dados, como capacitação de mão-de-obra em segmentos essenciais como geologia, logística e engenharia. Tão importante em tempos de mudança climática é o possível baixo impacto ambiental deste desenvolvimento. Não é um setor de intensiva utilização de terra (vide o baixo desmatamento de Urucu, da Refinaria ou do gasoduto) e a utilização tanto do gás natural quanto de energias renováveis são alternativas mais limpas que a atual matriz de gasolina e óleo combustível.
O potencial de fontes renováveis de energia é enorme, mas não atingiram o patamar econômico que permitiria um uso mais difundido.
ReplyDeleteEnergia solar talvez seja o melhor exemplo. Com a quantidade de sol que nosso estado recebe, e o alto custo e baixa qualidade de energia elétrica, o maior uso de energia solar poderia ter consequências extremamente positivas.
O alto custo de importação de tecnologia, e o custo Brasil talvez sejam parcialmente responsáveis pela adoção mínima de energia solar. Concordas? O que mais na sua opinião contribui para esse baixo uso?
Sobre capacitação profissional, é bom saber que esforços estão sendo feitos. Entretanto, creio que a cultura educacional da região e o perfil das instituições de ensino superior precisam melhorar muito.
Precisamos de mais pesquisa, com fontes híbridas de recursos para financiar essa pesquisa: iniciativa privada e governo. Empreendorismo precisa ser cultivado e estimulado.