30 May 2011

O desconhecimento da Amazônia e o Código Florestal

Discute-se esta semana o Código Florestal e sua atualização. Assim como grande parte de nossa legislação ambiental, o atual é uma peça de ficção, fruto da genuflexão brasileira perante o altar do politicamente correto, feito por gente sem conhecimento ou compromisso com a Amazônia. Esta peça de legislação foi responsável por arremessar parcela significativa da população amazônica na ilegalidade; o surpreendente é que o povo amazônico não se rebelou antes contra tal arbitrariedade imposta como descargo de consciência diretamente da Avenida Paulista ou das praias de Ipanema. A ausência desta revolta se atribui ao nosso caráter pacifista e nacionalista.

Surge então a oportunidade de atualizar o código. Ruralistas e ambientalistas se degladiam com grande intensidade no planalto central. Para a Amazônia, as perguntas que devem vir a tona são: qual o interesse dos amazônidas e quem o defende? Proponho uma articulação simples de nossos interesses, baseados em dois conceitos:
1) As amazônidas devem ser respeitados como cidadãos de bem. A legislação deve permitir que a grande maioria dos amazônidas esteja legalizado com simplicidade em suas atividades atuais, levando em consideração as peculiaridades regionais.
2) Se não servir aos homens, não servirá à floresta. A condicionante é que os amazônidas possam ter vidas produtivas; a conservação do meio ambiente que não estimular vidas enriquecidas não nos interessa. Caso o mundo ou os demais brasileiros queiram impor a conservação “para inglês ver”, devem por ela pagar através de serviços ambientais.

O velho e o novo código florestal violam estes simples conceitos. Um exemplo ilustrativo: a regra de que as APPs (áreas de preservação permanente) ao longo de rios largos (com mais de 600 metros de largura, ou seja, todos os principais da região) deve ser de 500 metros de terra além do ponto mais alto da enchente. A Amazônia dispõe de sábios ribeirinhos que vivem, obviamente, à beira dos rios. É desnecessário explicar o motivo que indígenas e ribeirinhos moram à beira de rios e não 500 metros adentro. Estas habitações são ilegais. O plantio da mandioca adjacente às casas, proibido! O novo código florestal proíbe casas nos primeiros 500 metros ao longo de rios largos. Adicionalmente, uma simples tecnologia desenvolvida há séculos pelos indígenas, o plantio na área de várzea, é proibido. Qualquer pessoa que um dia trafegou por um rio na Amazônia tem esta noção. Suspeito que presidentes e ministros do meio ambiente não o tenham feito.

Já se sabe a solução a este impasse: far-se-á vista grossa pelas autoridades, em nome da compaixão com os pequenos. Voltaremos ao ciclo de ilegalidade no qual uma economia organizada e próspera não poderá emergir; continuaremos sujeitos às esmolas de transferência de renda e à tutelagem do meio ambiente. Rejeite-se este cenário odioso! Para a Amazônia há duas saídas: rebeldia cívica ou o Aeroporto Eduardo Gomes.

Contato: Denis Minev, denis.minev@gmail.com ou @dminev

24 March 2011

Associação Panamazônia - Meu Discurso

Esta semana recebi generosa homenagem "Grandes Amazônidas", em conjunto com os ilustres Márcio Souza (grande escritor), Marilene Correa (ex SECT, UEA), Antonio Silva (FIEAM) e Roberto Ramos (UFRR). Segue meu breve discurso no evento:


Gostaria de agradecer a honra, sem dúvida um pouco prematura na minha carreira como amazônida. Tenho dúvidas se minha curta carreira já merece tal reconhecimento, junto a de grandes líderes, grandes escritores, grandes empresários. Se considerarmos este prêmio como o Oscar Amazônico, meus poucos anos me qualificam à categoria de “Curta Metragem”.

Tomo a oportunidade de saudar a Associação Panamazônia. Dentre as muitas ONGs da região, esta é a única cujo foco é o homem da Amazônia e não o meio ambiente. É uma ONG marrom, da cor da pele do caboclo, e não verde. É um justo reconhecimento do papel do Amazônida no centro das discussões do futuro da região.

Este homem amazônico teve alguns avanços nos últimos anos. Melhorou-se alguns indicatores de educação, a pujança econômica de cidades como Manaus é notável na uma hora de trânsito que enfrentamos para chegar nesta cerimônia hoje. São muitos amazônidas que pela primeira vez puderam comprar um carro, graças em parte ao trabalho de alguns dos agraciados aqui hoje junto a indústrias e instituicões públicas.

Ainda assim, a grande maioria dos amazônidas ainda vive em profundo atraso. Poucos têm título de sua terra, poucos têm conta bancária, ainda viaja-se nos famigerados popopós. De onde vem este atraso? De políticas públicas históricas, feitas “para inglês ver” por gente sem compromisso com a Amazônia, fruto da rendição brasileira ao politicamente correto ambiental. Assim tomou conta da Amazônia a cultura do vale-tudo e o pragmatismo da ilegalidade.

É preciso retomar a discussão a respeito do futuro da Amazônia com os amazônidas ao centro dela. Devemos nos orgulhar de ter a floresta no Amazonas 98% de pé, é motivo para celebração; deve nos entristecer, entretanto, que nosso maior truinfo (baixo desmatamento) nasce do que não fizemos. Como seres humanos, esperamos nos próximos anos conquistar o desenvolvimento. Precisamos transformar floresta e rios da Amazônia, de acidentes geográficos, para ativos financeiros e espirituais.

- Denis Benchimol Minev

20 March 2011

O mundo árabe e a liberdade

Artigo no Jornal Amazonas Em Tempo este domingo.

Em meio a protestos e regimes em queda livre no Oriente Médio, uns ainda se perguntam se alguns povos, como árabes e africanos, não têm algum tipo de incompatibilidade com a democracia. Este argumento é alimentado por muitos no mundo ocidental e, obviamente, por todos os ditadores. Com revoluções em curso, não há momento mais adequado para este debate.

Sempre há riscos em transições de regimes. Basta olhar para a queda do Xá no Irã, dos Talibãs no Afeganistão, de Pol Pot no Camboja e do Marechal Tito na Iugoslávia; todas levaram a grandes derramamentos de sangue. Se o desenrolar dos atuais protestos e conflitos no Oriente Médio assim for, muitos cidadãos destes países sentirão saudades dos recém-depostos ditadores. Lu Hsun, escritor da revolução chinesa, descreve: “Eu antes era escravo do mestre, agora sou escravo dos ex-escravos”. Será este o destino do mundo árabe?

Argumento que não. Há diferenças profundas entre as revoluções do passado e as do presente. O movimento por liberdade de 2011 é marcado por dois fatores que o diferenciam: descentralização e coragem. Estas revoluções não são golpes de estado, planejados cuidadosamente por pequenos grupos. Os governos derrubados até aqui o foram pela resistência pacífica de um levante que, desarmado, impôs sua vontade. O poder emanou do povo no Egito e na Tunísia de 2011 tanto quanto nos Estados Unidos de 1776 e na França de 1789.

E como chamá-los de despreparados para a democracia quando dão a vida por ela? Vemos no noticiário diário as imagens e histórias da praça de Tahrir no Cairo ou da Pérola no Bahrein, onde a polícia metralhou manifestantes. No twitter @dminev estão publicados os vídeos das chacinas. É difícil conceber situação mais inspiradora e revoltante. Imagine-se (você) tomando a decisão de ir a um protesto na Praça da Polícia (apropriadamente nomeada), onde no dia anterior dezenas de manifestantes foram assassinados pelo governo. Este manifestante se ergue contra um sistema que é capaz de torturá-lo, violentá-lo e prendê-lo por décadas sem julgamento. Ele se levanta contra um governo apoiado pelas maiores potências mundiais, que cantam os benefícios da liberdade para todos menos ele. Você iria até a praça?

Haverá percalços pelo caminho. A França após a revolução de 1789 teve de arcar com Napoleão e os próprios Estados Unidos após a indepêndencia tiveram guerra civil. Apesar das dificuldades, a vida sob democracia é melhor. O estudos de Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia, mostram que nunca houve uma grande fome no mundo sob regime democrático. Todos os exemplos de fomes devastadoras (Ucrânia, China, Etiópia, etc.) ocorreram sob ditaduras. Também nunca duas democracias entraram em guerra uma contra a outra. Nunca.

A visão de que alguns povos não têm valores democráticos é calcada em uma história de opressão (colonialismo, racismo, ditaduras). Argumentos da incongruência destes povos estão muitas vezes baseados no medo de uma radicalização religiosa. Esquecem que os radicais em geral florecem sob regimes autoritários e perdem a força sob a liberdade de expressão e representatividade democrática. No Egito e na Tunísia, os religiosos farão parte do jogo democrático, dentro de partidos políticos, como é o caso no Brasil. Os piores argumentos, entretanto, estão ligados à estabilidade do preço do petróleo -- a queda da ditadura na Arábia Saudita é sim desejável, a despeito da instabilidade que pode causar, pois o princípio da liberdade é superior ao da estabilidade.

É uma oportunidade histórica para o Brasil fornecer um degrau na escalada de um povo e de provar que solidariedade não é incompatível com o governo do povo, pelo povo e para o povo. O Brasil deveria apoiar os manifestantes explicitamente da Líbia ao Bahrein. Não o faz por polidez diplomática desatualizada. Ligue para seus representantes eleitos!

18 March 2011

Deputado diferente

Segue artigo na Veja que mostra o caso exemplar de um deputado federal que economiza o dinheiro público. Parabéns ao deputado Reguffe, caso algum dia ele venha a pleitear cargo mais elevado, deverá ser um formidável candidato.


Deputado diferente
Veja - 07/02/2011

José Antônio Reguffe, de 38 anos, foi o deputado federal mais bem votado do país em termos proporcionais. Escolhido por 266.465 eleitores, o equivalente a quase 19% dos que foram às umas no Distrito Federal, ele superou fenômenos televisivos, como Tiririca, e integrantes de clãs políticos tradicionais. No primeiro dia de trabalho, o parlamentar expediu seis ofícios à diretoria-geral da Câmara. Abriu mão do 14° e do 15° salários reduziu o número de assessores no gabinete, cortou gastos com salários de assessores e diminuiu sua verba de atividade parlamentar. Como morador de Brasília, naturalmente também abriu mão do auxílio-moradia e das passagens aéreas. As medidas resultarão em uma economia de 2,4 milhões de reais nos próximos quatro anos. Se elas fossem seguidas por todos os 513 deputados, a economia chegaria a 1,2 bilhão no mesmo período. Reguffe tomou medidas idênticas quando exerceu o mandato de deputado distrital em Brasília. Além de ter demonstrado que é possível um parlamentar trabalhar sem mordomias em excesso, o deputado brasiliense teve uma votação que prova como isso está em sintonia com o que pensa o eleitor.


QUINZE SALÂRIOS

O primeiro ofício que José Antônio Reguffe enviou à diretoria-geral da Câmara foi para pedir que não fossem depositados em sua conta os dois salários que os depurados recebem anualmente chamados de "ajuda de custo". Trata-se, na prática, de um 14° e um 15° salários, de 26723,13 reais cada um. Ao longo dos quatro anos de mandato, a medida levará a uma economia de 213785,04 reais para a Câmara.

"Esse foi um compromisso com meu eleitor. Não acho que seja correto que um deputado tenha direito a salários extras. Todo trabalhador recebe treze salários por ano. Portanto, nada mais lógico que um representante desse trabalhador também receba apenas treze salários por ano. É o justo."

COTA PARLAMENTAR

A Câmara criou uma cota para custear todos os gastos dos parlamentares com seu trabalho. Com valores que vão de 20030 a 34000 reais mensais, o dinheiro deveria ser usado para pagar despesas com passagens aéreas, selos, telefone, combustível, aluguel de carros e pagamento de consultorias. Como a fiscalização é muito frouxa, são frequentes os indícios de uso irregular. Reguffe pediu que sua cota fosse reduzida de 23030 reais para 4600 reais. Em quatro anos, a economia com a medida será de 884640 reais.


"Esse valor de 23030 reais é exorbitante, excessivo. O mandato parlamentar pode ser exercido com qualidade a um custo bem menor para os contribuintes. Pela minha experiência na Câmara Legislativa, acho que 4600 reais é um valor viável. É suficiente para manter o gabinete funcionando bem."

VERBA DE GABINETE E ASSESSORES

Os deputados têm direito a 60000 reais para contratar até 25 assessores para seus gabinetes. Reguffe estabeleceu junto à direção da Câmara que terá no máximo nove assessores e que não gastará mais que 48000 reais com os vencimentos, uma redução de 20% na verba. Só com os salários, a economia será de 624000 reais ao longo dos quatro anos. Mas ainda há o enxugamento de benefícios. Apenas com vale-alimentação dos dezesseis funcionários que não serão contratados, a Câmara economizará 514560 reais até 2014. "O número de assessores a que um parlamentar Tem direito é excessivo. Nós precisamos de bons Técnicos para exercer um mandato digno. Agora, 25 assessores. Se todo mundo vier trabalham; o gabinete não comporta nem a metade. É um gasto que parece servir como uma espécie de estatização de cabos eleitorais. Eu tenho um gabinete que vai me servir bem, que vai me dar amparo, sem precisar de tanta gente."

15 March 2011

Artigo de Walter Molano, economista chefe do Banco BCP, sobre o norte do Brasil

Brazil: North by Due North

Most investors think about the metropolises of Sao Paulo and Rio de Janeiro when pondering about Brazil. They conjure up images of undulating soybeans in Mato Grosso. A team of gauchos rounding up herds of cattle in the state of Goias is another popular tableau. Or, they can envision the fleet of Petrobras drilling rigs perforating the ocean blue. The vast diversity of Brazil’s topography, geography and natural resources produce a dancing kaleidoscope of perceptions. However, one image that rarely comes to mind is the cornucopia of wealth and opportunities that lie in Brazil’s northern territories. In actuality, the north represents 45% of the country’s landmass, although it is also the least inhabited region. It has less than 4% of Brazil’s population. Nevertheless, with most of the Amazon rainforest and the vast network of the Rio Negro, Solimoes and the Madeira Rivers, the north is a veritable treasure chest of commodities. The states of Amazonas and Para dominate the region, but there is also a panoply of smaller states, such as Acre, Amapa, Rondonia, Roraima and Tocantins. Interestingly, the region is physically isolated from the rest of the country. The national highway reaches only as far as Belem. Communication with the rest of the north must be completed by either air or river. This provides an interesting challenge for the region, which tends to push up costs. It is also perplexing for the city of Manaus, which is the electronics and electro-domestic industrial hub of the country. Under tariff incentives that were established by the military dictatorship during the 1970s, the city was transformed into a free zone—thus allowing manufacturers to circumvent Brazil’s onerous trade barriers. A wide range of multinational companies from the U.S., Europe and Asia set up assembly operations in the jungle city, giving the old rubber town a new lease on life. In the space of a few decades, Manuas’ population exploded ten-fold. However, it still remains an isolated outpost that is better interconnected with Venezuela and Colombia, rather than with the rest of Brazil. Sitting on the northern bank of the Amazon River, the national highway system cuts north into Boa Vista in Roraima and then on to Venezuela. Prior to the arrival of Hugo Chavez, Manuas enjoyed a booming trade with Venezuela--with electronics companies sending their wares to Caracas, and then on to ports of call in Colombia and the Caribbean. Today, most of the commerce is shipped by river to Belem and then onto other destinations within Mercosur.

While the state of Amazonas may be the jewel of the north, Para is its Wild West. Companhia Vale do Rio Doce (CVRD or Vale) was born during the heady days of World War II in the dusty hills of Minas Gerais, but the bulk of its current operations is located within the Carajas mine complex in the state of Para. The mine is literally a huge mound made of iron, gold, copper, nickel, alumina and bauxite that was converted into the largest iron ore mine in the world. Carajas holds 7.2 billion metric tons of proven and probable reserves. The site was accidently found during the 1960s, when a helicopter with surveyors from U.S. Steel was forced to land so they could refuel. The hill was completely barren and they found the iron content to be 66%, the highest of anywhere on the planet. The huge mineral deposits scattered throughout the state of Para is what gives it its Wild West characteristics. Armies of so-called “garimpeiros” dig and pan for gold, turning to lawless activities when their luck runs out. Tales of shootouts, vendettas and late night assaults of buses are commonplace in the empty badlands of rural Para.

However, the most controversial development in the north is occurring just outside the town of Altamira, where a new hydroelectric complex is about to dam a major tributary of the Amazon River. The Belo Monte complex, also known as Kararao, on the Xingu River rivals China’s Three Gorges Dam and it will be the third largest hydro facility in the world. Like its Chinese counterpart, Belo Monte is very contentious. In addition to flooding hundreds of square miles of rainforest, displacing more than 20,000 people and affecting the region’s biodiversity, it is the desperate call of a developing nation starving for electricity. After decades of neglect and decay, the government needed to take desperate measures to attend to the ever growing needs of a more prosperous society. The electricity generated by the new hydro complex could spark life into the backwater states of Rondonia and Acre, thus allowing them to develop their bounty of natural resources. Brazil’s north may hold only a sliver of the population, but it contains much of the country’s mineral and hydro resources. A concerted effort to modernize the region could transform it into one of the most dynamic engines of the Brazilian economy.

06 March 2011

Bom blog do novo Governador de Rondônia

O novo Governador de Rondônia, Confúcio Moura, tem publicado com frequência iniciativas de seu governo em seu blog, www.confuciomoura.com.br

É uma iniciativa de bastante transparência e que deve ser reconhecida.

28 February 2011

Bom artigo recente de Moacyr Scliar - Reinventar-se

Reinventar-se
Falando do arquiteto Oscar Niemeyer, que quase aos 103 anos resolveu tornar-se compositor e escreveu um samba (verdade que não muito bom), disse um jornal que o grande brasileiro acabava de se reinventar. Reinventar-se: esta é uma palavra que, em 2010, ganhou em destaque em nosso vocabulário.
Explicável: nunca antes na história deste país tantas mudanças aconteceram, a começar pela emergência de uma classe média formada por pessoas que, confrontadas com novas situações, precisam, justamente, se reinventar. E o que significa isso?
Em primeiro lugar, é preciso dizer que há uma diferença entre inventar e descobrir. Descobrir é achar uma coisa que já estava ali, aparentemente coberta ou oculta. Colombo descobriu a América, mas a América existia, ainda que não com esse nome, era habitada por muitos povos – só que os europeus não sabiam disso, e glorificaram essa ignorância com a palavra descoberta que, não sem boas razões, tem sido contestada, como de resto a descoberta do Brasil.
Inventar é outra coisa. Inventar é criar algo que não existia, um dispositivo, uma máquina, uma substância química. Inventar exige conhecimento, exige criatividade, exige imaginação; escritores são, de certa forma, inventores; eles fazem surgir personagens e situações que não existiam.
A invenção pode ter contornos sombrios, como a guilhotina (bolada por um médico, o Dr. Guillotin) e as câmaras de gás dos campos de concentração. Mas em geral inventores são objeto de nossa admiração, e o Nobel é um testemunho disso.
Já reinventar é um termo que tem conotação irônica, debochada: quando dizemos que Fulano reinventou a roda estamos fazendo uma gozação. Mas a partícula apassivadora “se” dá ao verbo um outro, e revolucionário, sentido; o termo, por assim dizer, se reinventa.
Reinventar-se significa deixar para trás o nosso passado, significa transformar nossa vida (nem que seja em pequenos detalhes) e isso pode ser um antídoto decisivo contra o marasmo, contra o desânimo, contra a apatia. De repente, somos outra pessoa.
Um choque? É. Um choque. Mas um choque benéfico.
Reinventar-se: eis aí um bom lema para o ano que se aproxima. Reinventar-se como profissional, como cônjuge, como pai ou mãe ou filho ou filha, reinventar-se como amigo, reinventar-se como cidadão ou cidadã, reinventar-se como pessoa. Num mundo em que a invenção é um acontecimento contínuo, em que as mudanças se sucedem de maneira vertiginosa, mexer um pouco com nós mesmos pode ser algo muito bom, um grande começo de ano, um grande recomeço de vida.
Zero Hora (RS), 26/12/2010

03 February 2011

Jim Collins: 10 passos para começar na próxima semana

Sucessor do guru Peter Drucker, Jim Collins não tem medo de colocar o dedo na cara dos empresários e dizer que são as empresas as causadoras de seu próprio declínio. Sem querer dar receita de bolo, ele estabelece 10 passos para gestores e companhias que estão dispostos a evitar esse fim. Confira:

1) Diagnostique a situação da empresa para saber onde pode melhorar
2) Pergunte a si mesmo: quantos cargos-chave estão nas mãos das pessoas certas?
3) Crie um conselho de administração pessoal, que ajude a entender o que está certo e errado
4) Duplique as perguntas e afirme menos, isso é sinal de liderança
5) Na próxima reunião, faça um inventário dos fatos “brutais” da empresa, os mais difíceis de se encarar
6) Descubra, perguntando a si e aos outros, qual é o seu motor e o da organização
7) Seja disciplinado e faça uma lista do que precisa parar de fazer
8) Desligue seus dispositivos eletrônicos por um dia, toda semana, para fazer uma reflexão disciplinada
9) Esclareça seus valores, questione suas práticas e repasse para os mais jovens
10) Estabeleça metas audaciosas e cabeludas para os próximos anos. Tenha sonhos.

Contribuição: Sandro Breval.

01 February 2011

Ótimo artigo sobre Amazônia, FAS e alternativas na Folha de SP

31 de janeiro de 2011
FAS | Folha de S. Paulo | Ricardo Young | BR

Volta para o futuro
RICARDO YOUNG
Isolene abre sua sala, cuja janela dá para a imensidão do rio Negro. Traços marcantes, gestos decididos e rara beleza fazem dessa jovem mulher uma personagem que não passa despercebida na comunidade ribeirinha de Tumbiras. Filha mais nova do fundador dessa comunidade vocacionada para a construção de barcos, beneficiou-se da condição de mestre do pai e conseguiu ir a Manaus estudar.
Sua história poderia ser como a de milhares que saem do Brasil profundo buscando futuro melhor nos grandes centros. Isolene não. Ciente de que foi uma das poucas a ter tal oportunidade, resolveu voltar para que as gerações futuras de Tumbiras não fossem condenadas ao isolamento.
Na volta, junto com dona Raimunda, por décadas a única professora dali, resolveram lutar para fazer com que a escola pública de Tumbiras fosse uma escola de verdade.
O destino desta jovem idealista e desta senhora extraordinária cruzariam com um fato que começa a fazer diferença na Amazônia. Criada por iniciativa do governo do Amazonas e do Bradesco, a Fundação Amazonas Sustentável tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a qualidade de vida das comunidades usuárias das unidades de conservação do Estado.
Em outras palavras, valorizar a floresta, remunerar as comunidades pelos serviços florestais e garantir saúde, educação, renda e integração para que a população possa se fixar nas comunidades. A meta é desenvolvê-las com as mais avançadas tecnologias de manejo florestal e oportunidades geradas pelo mecanismo do REDD+, adição de valor a produtos tradicionais da floresta.
Essa parceria pública/privada vem se constituindo em um possível modelo para desenvolvimento local sustentável, tornando a economia florestal algo viável e que beneficie, prioritariamente, aos que nela vivem e dela dependem.
A comunidade de Tumbiras decidiu que a prioridade dela seria a educação. Isolene, cosmopolita e articulada, e a professora Raimunda, de sabedoria curtida nos trópicos, encontraram na FAS a possibilidade de trazer para a floresta o que há de mais avançado em ensino a distância, tecnologia digital e ensino presencial.
Em salas de aula especialmente construídas, os alunos têm aulas pelo sistema de ensino a distância da Globo em parceria com a Secretaria de Educação do Amazonas.
Os conteúdos didáticos têm a mesma qualidade das melhores escolas de Manaus com interação via internet com professores on-line, acrescidos do ensino local em saberes como meio ambiente, recursos hídricos e biodiversidade. A contemporaneidade no Brasil profundo? É possível...
Isolene sorri um sorriso ensolarado de quem sabe que faz hoje pelo futuro de muitos o que um dia fizeram pelo dela.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.

08 December 2010

Eclusas de Tucuruí

23 November 2010

Poema da biografia de Nelson Mandela

Em sua biografia, Nelson Mandela faz referência a um poema, "Master of my Fate, Captain of my Soul". Segue abaixo:

Out of the night that covers me
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstances
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

01 September 2010

Apresentação sobre gestão pública

Segue abaixo o link para apresentação feita hoje a respeito de administração pública em seminário organizado pela Secretaria de Administração (SEAD) em conjunto com a Secretaria de Planejamento (SEPLAN).

A apresentação é voltada à implantação de valores e princípios como guia para gestão. Agradeço comentários e sugestões.


05 August 2010

Juma Project wins the Best Monitoring and Evaluation on Eco-Index

Dear Juma colleagues, friends and supporters,


Thanks to everyone who help us on building, supporting and implementing the project, we have now another big achievement:


The Juma REDD Project, implemented by FAS - Amazonas Sustainable Foundation, in Novo Aripuanã (AM), was elected by the Eco-Index of the Rainforest Alliance as the best in monitoring and evaluation methodology (category Best Monitoring and Evaluation Methodology).

The Rainforest Alliance is one of the world's most recognized certifications in the forestry projects area, being responsible, among others, for validations by international standards CCBS (Climate, Community and Biodiversity Standard) and VCS (Voluntary Carbon Standard) - two of most used in the world.

 "This recognition has special meaning for FAS and reflects the high degree of professionalism and motivation of our team, responsible for designing and implementing the REDD project to Juma," said Virgilio Viana, general superintendent of FAS.
Gabriel Ribenboim, Special Projects Manager, adds that "this recognition is one more element that comes to attest the technical robustness of the Project Juma."


To read the original material on the website Eco-Index, go: http://eco-index.org/search/results.cfm?projectID=1425 .

To learn more about Project Juma, visit http://www.fas-amazonas.org/pt/secao/projeto-juma

To learn more about the Eco-Index, visit www.eco-index.org


Best Regards,

_______
Raquel Luna
Gestora Institucional dos
Núcleos de Conservação e Sustentabilidade

18 July 2010

Não Faz Sentido! - Crepúsculo

Finalmente algum bom senso a respeito de vampiros...

16 July 2010

Ufanismo ambiental estrangeiro na Amazônia

110 km2 de desmatamento na Amazônia em maio de 2010.  Li a avaliação do IPAM, ONG ambientalista muito conhecida (http://www.ipam.org.br/noticias/Inpe-detecta-109-6-km-de-desmatamento-em-maio-na-Amazonia/743), na qual ele chama este volume de desmatamento de um retrocesso.  Como é comum no ufanismo ambiental, ele compara este volume de desmatamento ao tamanho do parque do Ibirapuera ou da ilha de Fernando de Noronha, como forma de impactar o leitor.  São comparações verdadeiras, diga-se de passagem.  Entretanto, ocultam a real magnitude da Amazônia e os grandes avanços dos últimos anos.

Por exemplo, a taxa de desmatamento na Amazônia entre 1990 e 2005 era em geral entre 15 e 20 mil km2.  Dividindo-se mensalmente, teríamos entre 1,2 mil e 1,7 mil km2.  É claro que há uma sazonalidade (o desmatamento maior ocorre na seca entre agosto e novembro), mas não é tão dramática a diferença quando se compara com os 110 km2 do mês de maio (redução de 93% na taxa).  A redução para 110 km2 é motivo de celebração.

Um outro fator importante é lembrar a magnitude da Amazônia.  São cerca de 5 milhões de km2 apenas no Brasil.  Ao ritmo de desmatamento do mês de maio, a Amazônia duraria mais 3,8 mil anos.  É um ritmo de desmatamento de 0,03% ao ano.  Este é um ritmo proporcionalmente mais lento do que o atualmente visto na mata atlântica, por exemplo.

Por último, não defendo xenofobia.  Todos são bem vindos à Amazônia.  Entretanto, como já argumentava meu avô Samuel Benchimol, a Amazônia tem baixo risco de internacionalização, mas alto risco de moratória ecológica imposta do estrangeiro, não na forma de governos e ONU, mas na forma de ONGs que são apoiadas por organização internacionais que fazer lobby junto ao governo brasileiro.  Convido-os a visitar o site do IPAM, na área de contribuidores.  Tente identificar se os recursos ali aportados representam a vontade do Brasil.  Eu respondo: não, é dinheiro do governo norte-americano, inglês e da comunidade européia.  Em outras palavras, é a voz deles, camuflada.
http://www.ipam.org.br/o-ipam/Quem-apoia-o-IPAM-/5

14 July 2010

Dois presos na Venezuela por twittar. Apenas um lembrete do quanto é bom viver em um país livre.

Mais uma vez nossos vizinhos do norte merecem distinção.  Dois twitteiros foram presos na Venezuela por criticar o sistema financeiro venezuelano, sugerindo que alguns bancos estavam próximos de serem tomados pelo governo (nenhuma surpresa aí).  Os dois são sujeitos a pena de até 11 anos de prisão.  Há mais 15 individuos sendo investigados.

Apenas um lembrete do quanto é bom viver em um país livre e como esta liberdade pode ser usurpada por sistemas autoritários.  Celebre-se nossa economia de mercado, onde se pode criticar qualquer empresa (estatal ou privada) ou governo, e nossa liberdade de imprensa, em especial a imprensa cidadã do século XXI (blogs, tweets e vídeos nossos de cada dia).

Notícias a respeito:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,venezuela-prende-dois-por-informacoes-falsas-postadas-no-twitter,578581,0.htm
http://www.latimes.com/technology/sns-ap-lt-venezuela-twitter,0,6311483.story

12 July 2010

Apresentação na FGV sobre sustentabilidade na Amazônia

Fiz semana passada apresentação na FGV Rio em fórum de sustentabilidade da Amazônia organizado pelo ex-Ministro Mangabeira Unger.  Segue o link para minha apresentação:


Evento da FGV a respeito da Amazônia

É impressionante o desconhecimento de brasileiros da realidade amazônica.  Acabo de retornar de evento organizado pela FGV do Rio, onde supostamente teríamos autoridades para debater opções de desenvolvimento da Amazônia.  Houve brilhantes discursos, inclusive do ex-Ministro Mangabeira Unger e de Alberto Lourenço.

Entretanto, foi impressionante ver a ingenuidade e persistência do "ambientalismo de Ipanema", cuja doutrina argumenta que o desmatamento na Amazônia precisa ser combatido com forças policiais e prisão.  Esquece que as leis nacionais transformam quase todos os amazônidas em foras-da-lei (os sem-registro, sem-título de terra, sem-CNPJ, etc.).  Construamos então 25 milhões de celas; quero a minha com tacacá, tambaqui e ar condicionado.

Segue link do evento e minha apresentação:
http://direitorio.fgv.br/node/1033
https://docs.google.com/leaf?id=0B_fpj_G8tpx_MTQ2NzExMzctOTUwZi00MmNhLWEwNjItMTUxMGU1OTc4MjFl&hl=pt_BR

10 July 2010

Mangabeira Unger defende "resgate" da população da Amazônia da ilegalidade

Dentre os líderes nacionais, o único a compreender com profundidade a questão amazônica.  Do jornal Folha de São Paulo.

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/763945-mangabeira-unger-defende-resgate-da-populacao-da-amazonia-da-ilegalidade.shtml
08/07/2010 - 15h01

Mangabeira Unger defende "resgate" da população da Amazônia da ilegalidade 

DENISE MENCHEN
DO RIO


Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, defendeu na manhã de hoje que o país precisa "resgatar a população da Amazônia da ilegalidade".
Mangabeira Unger, que também é professor de Harvard, destacou que o desenvolvimento sustentável da Amazônia passa por quatro eixos principais: regularização fundiária, regularização ambiental, inovação institucional a serviço da vanguarda tecnológica produtiva e unificação da região por meio de sistemas multimodais de transporte.
Para ele, o esforço de regularização ambiental deve enfrentar um problema decorrente da mudança de um regime de estímulo ao desmatamento, vigente até a década de 1970, para outro de fortes restrições em relação ao uso da terra.
"Com essa reviravolta de regimes legais, a população da Amazônia foi jogada numa ilegalidade retrospectiva, da qual nós agora temos que resgatá-la. Qualquer solução tem de incluir a construção de mecanismos de transição, mas a transição não deve servir de pretexto para abandonar o objetivo maior que é a reconciliação do desenvolvimento inclusivo com o desenvolvimento sustentável", afirmou.
Ele não comentou, porém, o projeto do novo Código Florestal aprovado anteontem por uma comissão especial da Câmara e que anistia multas aplicadas a desmatadores até 2008.
"Ainda não tive oportunidade de analisar o material. Seria irresponsável me manifestar", afirmou o ex-ministro, que participa do seminário "Amazônia: Desafios para um Projeto Inclusivo e Sustentável", promovido pela FGV-Direito, do Rio.
O ex-ministro criticou a regulação da atividade mineradora no país. Na avaliação de Unger é necessário elevar o valor de cobrança dos royalties do setor e rever o regime de concessões de áreas.
Mangabeira Unger também declarou voto a candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff. Segundo ele, a ex-ministra-chefe da Casa Civil tem "uma consciência clara dos projetos de desenvolvimento da Amazônia, do Nordeste e de outras regiões do país, não apenas como projetos regionais, mas como vanguardas de um novo projeto nacional".

29 June 2010

Fixmystreet.com

Belíssimo exemplo de transparência para prefeituras.  Será que poderíamos inovar no Amazonas?  Permite que cidadãos façam suas reclamações diretamente no site, que é administrado e atendido diretamente pela Prefeitura.

Os dois sites abaixo são funcionais, na Inglaterra e no Canadá.
www.fixmystreet.com
www.fixmystreet.co.uk
www.fixmystreet.ca

Segue abaixo artigos em português a respeito dos sites:
http://www.youtube.com/watch?v=exYbGNr34g4
http://derepente.com.br/2007/12/11/ferramentas-colaborativas/

Segue artigos em inglês:
http://www.mysociety.org/projects/fixmystreet/

Instruções para implantação e todo o código do site:
http://trac.meuparlamento.org/wiki/FixMyStreet