Preocupa-te Amazonas!
ou Um argumento sobre o triste
destino reservado a sociedades industriais complacentes
Denis Minev
Esta exposição tem o
objetivo principal de alarmar. O
processo de mudança precisa ser iniciado com o reconhecimento de que é necessário
mudar. O Amazonas e sua querida Zona
Franca ainda não atingiram tal grau de consciência; enquanto não o fizer,
quaisquer processo de mudança que implique grande esforço ou sacrifício tende
ao fracasso. Em tal cenário, apenas
melhorias pequenas e incrementais, também importantes porém insuficientes, tem
chance de sucesso. Nas próximas poucas
páginas busca-se preocupar o leitor com as perspectivas da Zona Franca e da
economia do Amazonas como um todo, criando assim as circunstâncias necessárias para
a conscientização dos graves riscos que se corre, pressuposto na libertação de
modelos mentais desatualizados e na busca de soluções para o futuro.
O argumento principal
oferecido aqui é que cidades que basearam seu desenvolvimento econômico em
grande parte em atividades industriais tiveram claros ciclos de pujança e
decadência econômica. Estes ciclos em
geral coincidem com fases do desenvolvimento dos países nos quais tais cidades
se inserem. Toma-se como exemplo dois países,
EUA e Inglaterra, protagonistas do segmento industrial até meados do século XX
que tiveram suas economias transformadas, chegando ao século XXI com maior
prosperidade mas com diferenças de desenvolvimento interno dramáticas e sempre
desfavoráveis a cidades cujo cerne econômico se baseava primariamente na
indústria.
Na Inglaterra do
século XIX e XX, cidades como Glasgow e Manchester despontavam na produção
industrial. A partir aproximadamente do
fim da II Guerra Mundial, ambas passaram por um declínio que as levou a perder
metade de suas populações em meio a permanentes níveis exorbitantes de
desemprego. Apenas com um grande volume
de migraçao e, finalmente, com a reinvenção da vocação econômica de ambas
(voltadas a serviços) no fim do século XX que estas cidades puderam ressurgir,
ainda que sem a importância que tiveram no contexto geopolítico do século
passado. O processo foi claro; a partir
do momento em que a sociedade inglesa se viu enriquecer e alcançar patamares
mais altos de bem estar e renda, indústrias grandes geradoras de empregos e
consequentemente buscadoras de mão-de-obra barata desapareceram. Houve grande transferência de importância,
por exemplo, de cidades indústriais para cidades concentradoras de serviços,
como foi o caso com Londres, que ganhou grande volume de importância e
permanece no século XXI importante centro mundial mesmo com uma indústria
insignficante.
Nos EUA do século XIX
e XX, processo semelhante ocorreu em cidades como Baltimore, Cleveland, Pittsburgh
e Detroit. Estas cidades estiveram no
centro do grande avanço norte-americano que em meados do século XX atingiram a
posição de grande potência econômica mundial.
O processo que se seguir viu os EUA continuarem a avançar em busca de
uma eocnomia mais próspera e, a despeito da atual recessão, atingirem no século
XXI níveis de prosperidade e bem estar indiscutivelmente altíssimos quando
comparados a outros países. A partir de
um certo ponto de prosperidade, entretanto, o país iniciou processo de desindustrialização. Como um todo, o processo não foi danoso à
economia norte-americana; outros segmentos ligados a serviços cresceram e
impuseram níveis de crescimento e renda muito superiores ao que seria possivel
com uma sociedade primariamente industrial.
Entretanto, para algumas cidades como as citadas acima, este processo se
traduziu em verdadeira catástrofe de proporções grandiosas e duradouras. Cleveland, Detroit, Pittsburgh, St. Louis,
Buffalo perderam metade da população que tiveram durante o auge, enquanto que
cidades como Baltimore e Filadélfia perderam 25% da população. O declínio durou no mínimo cincoenta anos e
causou, assim como na Inglaterra, altíssimos níveis de desemprego com somente
se reduziu com a migração de parte da população para regiões mais
prósperas.
Nestes dois países, o avanço da renda per capita causou a debandada de grande parte das indústrias, especialmente aquelas com maior conteúdo de mão de obra e portanto maiores empregadoras. Com a entrada da segunda década do século XXI, o Brasil se encontra em um momento de sua história muito semelhante; o volume de atividades indústriais responde por mais de 30% do PIB nacional mas já nota-se uma perda da relevância indústrial em favor do maior crescimento da área de serviços. No caso do Amazonas, temos uma situação complicada; até 2008 a indústria respondia ainda por 49% do PIB estadual. Manaus é uma cidade de destaque industrial na mesma proporção que as anteriormente mencionadas eram em seus respectivos países. Nos EUA e Inglaterra, não houve nenhum caso (NENHUM) de cidade predominantemente industrial que tenha prosperado em meio à transformação econômica. Será este o destino de Manaus??
Respondo com segurança
que temos alternativas. Lográ-las vai
requerer um grande volume de esforço concentrado e escolhas duras. Algumas direções que podem fortalecer nossas
vantagens comparativas e estancar e reverter processos como os mencionados
acima de inanição incluem:
- A integração de produtos amazônicos na cadeia de produção indústrial da Zona Franca
- A cadeia de energia (gás, petróleo e derivados)
- Maior utilização de recursos naturais (produtos madeireiros, minérios, carbono, água, peixes, etc.)
- Serviços (entreposto cultural, científico, político e logístico no centro/norte da América do Sul)
- Turismo
Entretanto esta é uma
conversa para outro dia. Antes, é
preciso que os amazonenses estejam verdadeiramente preocupados com o seu futuro.



