Mensalmente o Governo do Estado acompanha uma gama de cerca de 2 mil indicadores que relatam os mais diversos aspectos da economia, sociedade e meio ambiente do Estado. Um sumário destes dados está disponível no www.seplan.am.gov.br. Dentre estes todos, um indicador surpreende pela regularidade na ascensão -- a frota de veículos amazonenses. Em julho batemos os 498 mil veículos (dos quais mais de 80% estão em Manaus) e certamente em agosto atingiremos meio milhão. No pior da crise, em Janeiro de 2009, tivemos "apenas" 2,8 mil veículos emplacados; em julho passamos de 4,7 mil.
Reconheçamos por alguns instantes a grandiosa revolução em curso. Em Manaus, isto representa quase um veículo para cada 4 habitantes. A abundância de crédito que encobriu o país, combinada com o indiscutível crescimento diferenciado que o Amazonas demonstrou nesta década culminam no presente dilema. Devemos nos emocionar cada vez que novo amazonense adquire os meios econômicos para dispor de seu próprio carro; é uma situação quase tão singular quanto a aquisição da casa própria, outra revolução em curso em nossos dias. Entretanto, foi-se o tempo de chegar em qualquer lugar em 10 minutos e de almoçar todo dia em casa. Mas também foi-se o tempo de olhar para São Paulo ou Miami com inveja da pujança econômica representada pela frota veicular. Chegamos lá.
Com estes dados, é mais fácil compreender o trânsito cada vez mais caótico de Manaus. Há uma série de iniciativas públicas, dentre as quais enumero as vias do PROSAMIM, Avenida das Torres e Viadutos da Ephygenio Salles, que certamente contribuirão para a redução do tempo desperdiçado no trânsito e do consequente estresse municipal. Entretanto, a este ritmo, é apenas uma questão de tempo para que os sempre mais de 3 mil emplacamentos mensais engargalem estas novas vias.
Foi neste espírito que se iniciou em 2008, no âmbito do planejamento para a candidatura de Manaus à Copa de 2014, a série de estudos que levam o Governo do Estado à sugestão de implantação de um sistema rápido de transporte público em monotrilho, conforme apresentado em audiência pública recentemente. Esta é uma das três grandes obras e/ou melhorias apresentadas à FIFA (além do estádio e aeroporto) para a seleção de Manaus. O trajeto proposto liga a Cidade Nova ao Centro, passando na frente do estádio, com seis estações propostas ao longo do caminho; a motivação desta escolha para o trajeto inicial é o altíssimo fluxo de transportes públicos no eixo norte-sul, por onde trafegam cerca de 60% dos ônibus da cidade, com picos de mais de 15 mil passageiros/hora entre 6hrs e 8hrs da manhã.
Dentre as várias soluções consideradas, julgamos o monotrilho como o de melhor aderência às necessidades da cidade. O sistema proposto terá capacidade inicial em 2014 de 18,5 mil passageiros/hora, mais de 20% acima do fluxo médio atual, com possibilidade de expansão modular (adicionando mais carros sem obras estruturais) até 37 mil passageiros/hora. Ou seja, se Manaus continuar crescendo a uma taxa de 1,8% ao ano (a atual), temos uma infra-estrutura com capacidade para cerca de 40 anos. Dentro deste contexto de planejamento de longo prazo, podemos também considerar a expansão destas linhas pós-2014, seguindo por Cachoeirinha, Bola da Suframa e Grande Circular, um projeto para futuros governadores e prefeitos. O custo estimado do trecho proposto para implantação até 2014 é de R$1 bilhão, dos quais dois terços devem ser em recursos públicos.
Na gama de benefícios esperados, lista-se a economia de tempo, que hoje dura mais de 1hr nos horários de pico (terminais Cidade Nova - Centro direto) para 26 minutos de trajeto total, totalizando por dia mais de 47 mil horas economizadas. Em termos de poluição (emissões de carbono), economiza-se o equivalente a 1.000 árvores médias por dia com menos ônibus trafegando.
Há uma série de riscos a serem considerados. Muitos projetos desta magnitude ao redor do mundo param por problemas de financiamento por exemplo. Dentro deste contexto, é importante explicitar a situação financeira do Amazonas; temos um baixíssimo nível de endividamento (cerca de um quarto do teto estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que permitiria até R$12 bilhões de dívidas ao Amazonas) e temos um orçamento saudável com margem de investimento de mais de 10% mesmo em um ano de gravíssima crise mundial. Há também considerações a respeito da integração com a malha existente de ônibus, que precisará ser parcialmente readequada para alimentar o novo sistema; esta readequação requer grande volume de cooperação que certamente é do interesse de todos. Por último, a tarifa é sempre um tema central; utilizando-se como parâmetro cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, chega-se à conclusão que o sistema proposto pode ser mais econômico devido às melhores tecnologias disponíveis hoje.
É certo que este é um tema polêmico, que afetará a vida de todos os manauaras daqui para frente. Críticas e sugestões são sempre bem-vindas.
A apresentação completa da audiência pública se encontra no site manauscopa2014.com