O ano de 2009 promete ser grande campo de batalha ideológica entre capitalismo e socialismo. Foi com um q de vibração e sentimento de doce vingança que comunistas e socialistas observaram o modelo de capitalismo liberal americano de joelhos. Muitos equipararam a falência do banco Lehman Brothers à falência do capitalismo, assim como a queda do muro de Berlim significou o fim do comunismo soviético.
É importante primeiro lembrar que crises são parte integrante do sistema capitalista. É um sistema que se renova em suas sucessivas mortes e renascimentos. Ao que se sabe, o sistema comunista soviético não teve nenhuma crise desde seu início em 1917 até seu fim em 1989. Neste mesmo período, os EUA passaram por sete recessões, inclusive a grande depressão que durou mais de 10 anos. Apesar disso, é indiscutível qual dos dois obteve mais sucesso no período.
É claro também que o capitalismo incipiente na China foi o grande impulsionador do crescimento econômico que faz daquele país hoje a terceira maior economia do mundo, vinda de uma situação de penúria há apenas trinta anos. No Brasil, foi a busca pelo lucro e este mesmo sistema financeiro internacional que possibilitou um dos maiores avanços que já vimos. Empresas como Cyrela, Abyara, Gafisa, hoje nomes do nosso cotidiano, buscaram bilhões no mercado para investir e aumentar o estoque de habitações no país; isto não teria sido possível simplesmente com financiamento e construções públicas.
Os novos shopping centers em Manaus são fruto destes recursos também, assim como grande parte das lojas que os ocupam (em particular Renner e Marisa que fizeram captações nos últimos anos); a maior geração de empregos no Amazonas nos últimos anos foi nestas frentes e não na área industrial. Nosso futuro porto será construído pela Log-In, outra empresa recém-lançada no mercado de ações. A aviação aérea é outro segmento que sem um mercado financeiro pujante nunca teria saído do chão – Gol e TAM precisaram captar recursos estrangeiros, e agora a Azul desponta como grande esperança. Temos TV a cabo em Manaus financiada em grande parte pelo mercado de ações. Nas telecomunicações, existe alguma dúvida de que a extinta Telamazon conseguiria oferecer os serviços que hoje temos de internet e voz para um total de mais de 2 milhões de linhas celulares no Amazonas (mais de 1 celular para cada 2 amazonenses, dados da Anatel). De onde veio este dinheiro todo? Do mercado financeiro.
Busca-se então reconhecer onde há falhas e criar mecanismos que evitem futuros problemas, ao invés de rechaçar o sistema todo. Por exemplo, a pobreza no Brasil foi drasticamente reduzida nos últimos anos com programas como o Bolsa-Família, que provê os mais pobres de uma renda suplementar mínima, mesmo em crise. Há também o seguro-desemprego, para reduzir a insegurança do trabalhador frente a uma demissão. É o papel do Governo oferecer a rede de proteção. No tema meio ambiente também temos enormes desafios que o laissez-faire americano do século XX se mostra inadequado para lidar.
Descobriu-se com esta crise que os sistemas de avaliação e administração de riscos dos grande bancos são inadequados ao mundo moderno; que as regras da Brasiléia que determinam o quanto de margem de segurança bancos mundiais devem ter serviam para 1988 mas não 2008; que as grandes remunerações de executivos estimularam tomada excessiva de riscos em um mundo volátil; que uma vez instalado o pânico, apenas intervenções fortes e coordenadas de múltiplos governos poderiam estabilizar o sistema. É necessário aprender as lições e buscar a retomada do crescimento global, desta vez em bases mais sustentáveis a longo prazo.
É bom apenas lembrar que a tão criticada economia americana, que no auge imobiliário construía um milhão de casa por ano, em 2008, no meio de uma enorme crise, ainda construiu mais de 500 mil casas (todas pela iniciativa privada), ou uma para cada 600 habitantes; o Brasil, que vivia o auge da bonança imobiliária, atingiu 300 mil casa no ano, ou uma para cada 660 habitantes.